Prefeitura de Fortaleza consulta Iphan sobre possível demolição da ponte velha, na Praia de Iracema

A Ponte Velha do Poço da Draga tem relação com o primeiro porto de Fortaleza - Foto: Fabiane de Paula

O destino das estruturas da Ponte Velha ou Ponte Metálica, no Poço da Draga, na Praia de Iracema, em Fortaleza, há alguns meses, voltou a mobilizar discussões entre a Prefeitura e o Governo Federal, incluindo órgãos como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Superintendência do Patrimônio da União (SPU). Em maio, a gestão de Evandro Leitão (PT) consultou o Iphan sobre a possível “demolição controlada da ponte”, conforme documento ao qual o Diário do Nordeste teve acesso.

A estrutura, interditada desde agosto de 2023, tem mais de 100 anos, e a ideia de demolição já havia sido cogitada na gestão anterior, do ex-prefeito José Sarto (PDT). Consultada pelo Diário do Nordeste, a Prefeitura confirmou, nesta segunda-feira (4), em nota, que solicitou “pareceres técnicos de vários órgãos” sobre a situação da ponte e que projetos de requalificação do espaço “estão em análise”.

Conforme o Iphan, no dia 19 de maio de 2025, a Prefeitura de Fortaleza protocolou junto à Superintendência do órgão no Ceará um ofício assinado pelo Secretário da Regional 12, Adams Cavalcante Gomes, “que trata de medidas emergenciais necessárias para a demolição controlada da Ponte Metálica do Poço da Draga”.

No ofício, diz o Iphan, a Prefeitura aponta que a estrutura da Ponte Velha “apresenta risco de acidentes de alta gravidade, demandando ações preventivas urgentes para salvaguardar a integridade física dos cidadãos que transitam pela área”. Segundo o Iphan, a Prefeitura anexou no documento um parecer técnico da Defesa Civil Municipal no qual classifica o nível de risco do imóvel como “muito alto” para as estruturas da ponte e alto para as estruturas sob a ponte.

No parecer da Defesa Civil, aponta o Iphan, o órgão municipal concluiu que a Ponte Metálica está em colapso estrutural progressivo e representa risco direto à vida em caso de acesso indevido. Mas, embora a demolição seja uma das opções apresentadas, o documento da Defesa Civil não a determina como a única medida a ser tomada. Uma das possibilidades, diz o documento, é a “consolidação do espaço como ruína histórica”.

O documento do Iphan ao qual o Diário do Nordeste teve acesso diz ainda que “como medidas imediatas foi solicitado à SPU-CE a autorização formal para demolição da estrutura, por se tratar de área sob gestão compartilhada” e aponta ainda que ao Iphan houve uma consulta sobre “o eventual interesse histórico-cultural da estrutura e orientações quanto à preservação da memória do local através de documentação fotográfica e registro histórico antes da demolição”.

A ideia de demolição do equipamento, que além de outros atributos é uma das primeiras infraestruturas portuárias da cidade, conectada historicamente aos galpões industriais da Praia de Iracema, além da relação afetiva com o Poço da Draga, já havia sido cogitada na gestão Sarto.

Em junho de 2022, o Diário do Nordeste noticiou que a Prefeitura, à época, buscou a SPU com essa mesma finalidade. Mas o órgão federal, embora não descartasse essa alternativa, naquela altura, considerou que havia outras possibilidades como a revitalização do espaço.

O que o Iphan respondeu?

Diante da manifestação da atual gestão, o Iphan respondeu à Prefeitura formalmente em 4 de junho de 2025 e esclareceu que a Ponte Velha não possui proteção federal legal, mas ressaltou que a ausência de tombamento não implica falta de valor histórico, arquitetônico ou cultural.

No documento o Iphan elenca evidências sobre o valor histórico da estrutura iniciada em 1902, e aponta dentre outros: a relação direta com o desenvolvimento urbano, com os galpões industriais da Praia de Iracema e com a Ponte dos Ingleses. Além disso, o Iphan destaca que a Ponte Velha possui significativo valor afetivo para os moradores do Poço da Draga, que associa a data de inauguração da estrutura ao nascimento da comunidade.

Outro ponto registrado pelo órgão federal é que a demolição da estrutura também “pode representar um risco para a preservação de possíveis sítios arqueológicos marítimos, uma vez que existem relatos de diversos naufrágios na região”.

O Iphan ressalta que não contesta o laudo da Defesa Civil e que a recomendação não contraria nem impede as orientações do órgão municipal para restringir, neste momento, o acesso de frequentadores à ponte, mas recomenda a realização de estudos mais aprofundados sobre as condições de conservação da estrutura, tendo em vista que “o próprio parecer (da Defesa Civil) que aponta a demolição como uma das opções, em suas conclusões, não determina que seja essa a medida a ser tomada”.

Também há recomendação que, tendo em vista o valor cultural do equipamento, as decisões sobre o futuro da estrutura contem com a participação dos moradores do Poço da Draga. Além disso, há indicação de que o assunto seja tratado no Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Histórico e Cultural de Fortaleza (Comphic).

Também em junho, em uma reunião do Comphic ocorrida no dia 11, o representante do Iphan no Conselho, Marcel Andrade, informou aos demais conselheiros sobre o recebimento do ofício da Prefeitura e questionou se a Coordenação do Patrimônio Histórico-Cultural da Secultfor estaria ciente da demolição.

Na ocasião, conforme registra a ata publicada na edição do Diário Oficial do Município do dia 15 de julho, a titular da Secultfor, Helena Barbosa respondeu que “não tinha ciência da situação” e destacou a importância do debate sobre a Ponte Metálica do Poço da Draga “justamente pela relevância coletiva para a região”.

Na reunião, registra a ata, o titular da Coordenação de Patrimônio Histórico e Cultural (CPHC), Diego Amora também afirmou “que não tinha conhecimento e que a informação estava chegando pelo conselheiro”.

Projetos de requalificação estão em análise, diz Prefeitura

Diário do Nordeste procurou, na sexta-feira (1º), a Prefeitura de Fortaleza para se manifestar sobre a consulta sobre a possibilidade de demolição da Ponte Velha e solicitou entrevista com um gestor sobre o tema.

Na segunda-feira (4), a Secretaria Regional 12 (SER 12) em nota disse que “não emitiu ordem de demolição da Ponte Metálica do Poço da Draga” e que solicitou em abril de 2025, pareceres técnicos de vários órgãos da administração municipal e do Iphan para “viabilizar uma solução para o risco a que se submetem os frequentadores do local, uma vez que é perceptível o desgaste e a insegurança da estrutura da Ponte”.

Na nota, a Prefeitura menciona que, apesar de interditada, a Ponte “segue sendo utilizada por banhistas de Fortaleza e turistas”. A nota diz também que “projetos de requalificação do espaço estão em análise pela Prefeitura” e que a SER 12 compreende que a Ponte Metálica tem importante valor cultural e histórico.

A SPU também foi procurada pelo Diário do Nordeste para se manifestar sobre o assunto, mas até a publicação desta matéria, não obteve retorno.

 

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