Orkut foi o berço das comunidades mais absurdas, engraçadas e inesquecíveis da Internet brasileira. Antes dos memes dominarem o Instagram e das polêmicas explodirem no X (antigo Twitter), era ali que o brasileiro encontrava um refúgio digital – com fóruns lotados de frases sem sentido, tretas épicas e confissões que só faziam sentido naquela época.
Lançado em 2004, o Orkut ficou marcado pelas comunidades que funcionavam como salas abertas de conversa, onde qualquer um podia entrar, interagir e se identificar com desconhecidos a partir de ideias inusitadas ou sentimentos em comum. Tinha espaço pra tudo: desde quem “Queria abraçar todo mundo da comunidade” até quem “Odeia gente que respira pela boca”. Nesta lista, o TechTudo reuniu 12 das comunidades mais bizarras (e hilárias) do Orkut que deixaram saudade.
1. Eu odeio acordar cedo
Clássica, e extremamente verdadeira para milhões de brasileiros. Essa comunidade era quase um grito de desespero coletivo dos que sofriam com o despertador antes das 8h. Os fóruns reuniam queixas sobre a escola, o trabalho e até o canto do galo, que parecia conspirar contra o sono alheio. Com bom humor, os membros compartilhavam táticas para fingir doenças, dormir no ônibus ou sair de casa com o travesseiro ainda grudado. Era uma comunidade tão relevante que quase virou política pública.
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Eu odeio acordar cedo — Foto: Reprodução Orkut
2. Eu durmo na sala de aula
Essa era a comunidade dos sonâmbulos escolares. Quase todo aluno já passou pela experiência de “pescadas” durante a aula, e aqui era o lugar certo para admitir sem culpa. Os membros postavam relatos de cochilos lendários, estratégias para dormir com o caderno aberto e até fotos comprometedoras tiradas pelos colegas. O ambiente era de compreensão mútua: ninguém julgava quem “apagava” na aula de matemática. Para muitos, dormir era até mais produtivo que tentar entender a matéria.
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Eu durmo na sala de aula — Foto: Reprodução Orkut
3. Só mais 5 minutinhos
Essa frase representava a mentira mais contada nas manhãs dos anos 2000 — e virou nome de comunidade com milhares de adeptos. O “só mais 5 minutinhos” sempre virava 15, 30, e de repente o atraso estava garantido. A comunidade reunia os especialistas em soneca, aqueles que usavam três despertadores e mesmo assim perdiam o horário. Tinha quem admitisse que esse mantra era usado para tudo: levantar, estudar, sair, fazer dieta. Era basicamente o hino oficial da procrastinação.
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Só mais cinco minutinhos — Foto: Reprodução Orkut
4. Mulher não se pega, conquista!
Aqui, a vibe era outra: autoestima nas alturas, flertes sutis e frases dignas de fotolog com fundo preto e fonte vermelha. A comunidade reunia pessoas que se achavam (ou queriam se achar) os verdadeiros galanteadores do Orkut. Os tópicos misturavam conselhos amorosos, indiretas românticas e relatos de conquistas cheias de poesia duvidosa. Muitos usavam a frase como descrição no perfil, sinalizando que estavam “abertos a relacionamentos” — mas com respeito, claro. A arte da conquista era levada a sério.
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Mulher não se pega, conquista! — Foto: Reprodução Orkut
5. Sou legal, não tô te dando mole
Essa comunidade era praticamente um desabafo em forma de título. Criada para quem cansou de ser mal interpretado, ela reunia pessoas simpáticas que só queriam ser… legais. Nos fóruns, os relatos iam de colegas insistentes até situações engraçadas em que um simples “oi” virava convite para casamento. Era um espaço para reforçar que educação não é flerte, e que amizade pode sim ser só amizade. Um verdadeiro manifesto dos extrovertidos que não aguentavam mais ter que explicar isso.
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Sou legal, não estou te dando mole — Foto: Reprodução Orkut
6. Hoje é dia de maldade
A frase que se tornou viral muito antes de existir TikTok ou Reels. Essa comunidade era o espaço para quem acordava com sangue nos olhos — ou só queria dar uma animada na semana. Os tópicos misturavam zoeiras, piadas sarcásticas, histórias de “vinganças” cotidianas e até playlists para entrar no clima da maldade. Apesar do nome, tudo era no tom de brincadeira. Era mais sobre atitude do que sobre crueldade: se arrumar, sair por cima, responder à altura… e deixar o carma cuidar do resto.
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Hoje é dia de maldade — Foto: Reprodução Orkut
7. Mudos não vão a Roma
Com um nome enigmático e engraçado, essa comunidade fazia parte das famosas “comunidades enigma do Orkut”. A frase dava um nó na cabeça e gerava debates sobre o real significado: era uma crítica social? Um trocadilho? Um erro proposital? Ninguém sabia ao certo — e esse era o charme. Os fóruns se dividiam entre quem levava a frase a sério e quem só estava lá pelo caos. No fundo, era a prova de que, no Orkut, até as ideias mais absurdas encontravam eco (e seguidores fiéis).
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Mudos não vão a Roma — Foto: Reprodução Orkut
8. Odeio comunidade que muda de nome
Poucas coisas eram tão irritantes quanto entrar em uma comunidade que você amava e, do nada, ela virava algo completamente diferente. Essa comunidade nasceu como protesto contra essa prática comum — geralmente feita para ganhar mais membros ou viralizar. Os participantes reclamavam da confusão causada, contavam casos de “traições” e até organizavam listas de comunidades traidoras. Um verdadeiro grito de revolta dos nostálgicos que valorizavam a coerência digital.
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Odeio comunidade que muda de nome — Foto: Reprodução Orkut
9. Eu nunca terminei uma borracha
Mais um exemplo de como o Orkut transformava as pequenas verdades da vida em fenômenos coletivos. Essa comunidade reunia milhares de pessoas que compartilhavam a frustração (ou alívio) de nunca ver o fim de uma borracha. Sempre sumia, quebrava, era emprestada ou mordida (sim, mordida). Nos fóruns, rolavam confissões escolares, teorias de conspiração e até lendas urbanas sobre “a borracha infinita”. Era o tipo de reflexão que só o Orkut poderia popularizar.
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Eu nunca terminei uma borracha — Foto: Reprodução Orkut
10. Deus me disse: desce e arrasa
Essa era para quem tinha fé — e muito estilo. Misturando espiritualidade com autoestima elevada, a comunidade reunia pessoas que acreditavam que tinham uma missão divina: brilhar. Nos fóruns, os tópicos iam de autoajuda a dicas de looks, sempre com frases de impacto e energia lá no alto. Era o lugar ideal para encontrar motivação e lembrar que, segundo essa filosofia, Deus não apenas aprova seu sucesso — ele manda você causar. Um verdadeiro empoderamento à moda Orkut.
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Deus me disse: desce e arrasa! — Foto: Reprodução Orkut
11. Tocava campainha e corria
Um clássico do humor e da travessura infantil. Essa comunidade reunia quem já praticou ou ainda se orgulhava da arte de tocar a campainha dos vizinhos e sair correndo como se não houvesse amanhã. Era um passatempo arriscado, mas emocionante, especialmente quando o morador abria o portão aos berros. Nos fóruns, os relatos de fugas épicas, sustos e reencontros inesperados (tipo encontrar o vizinho na padaria no dia seguinte) garantiam boas risadas. Era pura nostalgia de uma infância sem Wi-Fi, mas cheia de adrenalina.
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Tocava campainha e corria — Foto: Reprodução Orkut
12. Eu colho flores e Tony Ramos
Poucas comunidades conseguiram ser tão aleatórias e geniais quanto essa. Com um nome completamente sem sentido, ela viralizou exatamente por isso: era absurda, confusa e hilária. O Tony Ramos, claro, não tinha absolutamente nada a ver com flores — e era justamente essa associação nonsense que atraía membros. Os fóruns giravam em torno de memes, piadas internas e tentativas de explicar o inexplicável. Era a cara do Orkut: uma rede onde o absurdo fazia sentido e a zoeira reinava soberana.
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Eu colho flores, Tony Ramos — Foto: Reprodução Orkut
Curiosidades que marcaram a era das comunidades do Orkut
As comunidades do Orkut não eram apenas um espaço de humor — elas funcionavam como pequenos universos onde as pessoas se encontravam por afinidade, afinco ou puro acaso. Cada comunidade tinha um dono (geralmente quem a criou) e podia ter moderadores, responsáveis por organizar os tópicos, aceitar ou excluir publicações e, claro, manter a ordem nas discussões. Algumas comunidades chegaram a ultrapassar milhões de membros, como “Eu odeio acordar cedo”, “Eu amo minha mãe” ou “Eu já comi o recheio e fechei a bolacha de novo”.
Outro fenômeno era o “flood” nos tópicos, uma prática para manter o assunto ativo — os usuários comentavam frases repetidas ou emoticons só para manter a comunidade na aba principal. Também surgiram as famosas tretas de fórum, onde longas discussões se desenrolavam entre usuários desconhecidos, muitas vezes por motivos completamente aleatórios. Era um caos divertido — e coletivo.
O Orkut foi oficialmente desativado em 30 de setembro de 2014, após anos perdendo espaço para redes sociais como Facebook, Twitter e Instagram. O fim da plataforma deixou milhões de usuários órfãos das suas comunidades favoritas, depoimentos carinhosos e scraps coloridos. Apesar da despedida, parte do conteúdo foi preservada em iniciativas como o Orkut Archives, que buscou manter viva a memória dessa era de ouro da Internet brasileira.
Hoje, várias tentativas de reviver o Orkut surgem aqui e ali — mas nenhuma rede conseguiu capturar a essência daquele espaço onde o Brasil foi, talvez pela primeira vez, protagonista no cenário digital global. O Orkut não era só uma rede social. Era um reflexo do nosso jeito de rir, conviver e compartilhar a vida — tudo com uma pitada de exagero e muita criatividade.