BRASÍLIA, 6 de agosto (Reuters) – Com as tarifas dos EUA sobre produtos brasileiros subindo para 50% nesta quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse à Reuters em uma entrevista que não via espaço para negociações diretas com o presidente dos EUA, Donald Trump, o que ele acredita que se tornaria uma “humilhação” para ele.
O Brasil não está disposto a anunciar tarifas recíprocas, disse ele. Seu governo também não desistirá das negociações ministeriais. Mas o próprio Lula não tem pressa em telefonar para a Casa Branca.
“No dia em que minha intuição disser que Trump está pronto para conversar, não hesitarei em ligar para ele”, disse Lula em entrevista de sua residência presidencial em Brasília. “Mas hoje minha intuição diz que ele não quer conversar. E eu não vou me humilhar.”
Apesar das exportações brasileiras enfrentarem uma das maiores tarifas impostas por Trump, as novas barreiras comerciais dos EUA parecem improváveis de prejudicar a maior economia da América Latina , dando a Lula mais espaço para se manter firme contra Trump do que a maioria dos líderes ocidentais.
Lula descreveu as relações entre os EUA e o Brasil como o ponto mais baixo em 200 anos, depois que Trump vinculou a nova tarifa à sua exigência de fim do processo contra o ex-presidente de direita Jair Bolsonaro, que está sendo julgado por conspirar para anular a eleição de 2022.
O presidente disse que o Supremo Tribunal Federal, que está julgando o caso contra Bolsonaro, “não se importa com o que Trump diz e nem deveria”, acrescentando que Bolsonaro deveria enfrentar outro julgamento por provocar a intervenção de Trump, chamando o ex-presidente de direita de “traidor da pátria”.
“Já havíamos perdoado a intervenção americana no golpe de 1964”, disse Lula, que iniciou sua carreira política como líder sindical protestando contra o governo militar que se seguiu. “Mas esta não é uma intervenção pequena. É o presidente dos Estados Unidos achando que pode ditar regras para um país soberano como o Brasil. É inaceitável.”
O presidente brasileiro disse não ter problemas pessoais com Trump, acrescentando que eles poderiam se encontrar nas Nações Unidas no mês que vem ou nas negociações climáticas da ONU em novembro. Mas ele destacou o histórico de Trump de repreender duramente convidados da Casa Branca, como o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa e o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy.
“O que Trump fez com Zelenskiy foi uma humilhação. Isso não é normal. O que Trump fez com Ramaphosa foi uma humilhação”, disse Lula. “Um presidente não pode humilhar outro. Eu respeito a todos e exijo respeito.”
O presidente não quis dar detalhes sobre medidas pendentes para apoiar empresas brasileiras, que devem incluir linhas de crédito e outras assistências à exportação.
Ele também disse que planejava telefonar para líderes do grupo BRICS de países em desenvolvimento, começando pela Índia e pela China, para discutir a possibilidade de uma resposta conjunta às tarifas dos EUA.
“Ainda não há coordenação entre os BRICS, mas haverá”, disse Lula, comparando a ação multilateral à força da negociação coletiva em seus tempos de sindicato. “Qual é o poder de negociação de um pequeno país com os Estados Unidos? Nenhum.”
Separadamente, ele disse que o Brasil estava estudando apresentar uma queixa coletiva a outros países na Organização Mundial do Comércio.
“Eu nasci negociando”, disse Lula, que cresceu na pobreza e ascendeu na hierarquia sindical para servir dois mandatos como presidente, de 2003 a 2010, e depois voltou à política nas eleições de 2022 para derrotar o então presidente Bolsonaro.
Mas ele disse que não tinha pressa em fechar um acordo ou retaliar contra as tarifas dos EUA: “Precisamos ser muito cautelosos”, disse ele.
Questionado sobre contramedidas direcionadas a empresas americanas, como maior tributação de grandes empresas de tecnologia, Lula disse que seu governo estava estudando maneiras de tributar empresas americanas em pé de igualdade com as empresas brasileiras.
Lula disse que seus ministros estavam tendo dificuldades para iniciar negociações com seus pares americanos, então seu governo estava focado em medidas internas para amortecer o impacto econômico das tarifas americanas, mantendo ao mesmo tempo a “responsabilidade fiscal”.
Ele também disse que planejava telefonar para líderes do grupo BRICS de países em desenvolvimento, começando pela Índia e pela China, para discutir a possibilidade de uma resposta conjunta às tarifas dos EUA.
Lula também descreveu planos para criar uma nova política nacional para os recursos minerais estratégicos do Brasil, tratando-os como uma questão de “soberania nacional” para romper com um histórico de exportações de minerais que agregavam pouco valor ao Brasil.