Vários produtos do agronegócio cearense que eram exportados para os Estados Unidos tiveram as transações reduzidas em agosto de 2025. A principal queda foi na castanha de caju, fresca ou seca, sem casca. A venda do alimento, em termos financeiros, caiu 95,3% na comparação com agosto do ano passado.
No mesmo mês de 2024, o Ceará exportou pouco mais de 262 mil toneladas do produto, o que totalizou US$ 1,68 milhão (R$ 9,15 milhões na conversão atual). Já em agosto deste ano, as vendas da castanha para os Estados Unidos foram reduzidas para 25,4 toneladas, com somente US$ 78,4 mil comercializados (R$ 426,9 mil convertidos).
Outras quedas expressivas observadas foram no segmento de couros e peles inteiros, que despencou 73,76% no comparativo entre os meses de agosto. Com percentual próximo, com redução de 72,48% nas exportações, estão as ceras vegetais, aqui representadas pela cera de carnaúba.
Os dados foram divulgados nessa quinta-feira (4) pela plataforma Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Até a ocasião, o Ceará era o maior comerciante de produtos do Brasil com os Estados Unidos em termos percentuais, com mais de 52% da produção cearense voltada à exportação sendo direcionada aos EUA.
Qual o tamanho da exportação atual do Ceará para os EUA?
Além desses quatro produtos, destaca-se na exportação cearense para os Estados Unidos os sucos (ou sumos) de qualquer outra fruta ou produto hortícola. Eles também tiveram uma queda considerável, com diminuição de 32,07% na comparação de agosto deste ano com igual mês de 2024.
Considerando somente valores absolutos, a redução dos valores exportados dos quatro produtos do agronegócio causou um prejuízo próximo dos US$ 6 milhões, quase R$ 28 milhões na cotação atual.
Apesar desse quadro em alguns produtos — a castanha foi, em agosto do ano passado, o quarto item mais exportado do Ceará para os EUA, e apenas o 26º em 2025 — o cenário das exportações cearenses no mês anterior foi bastante positivo.
O Ceará exportou para os Estados Unidos 66,7 mil toneladas, o que representou US$ 52,5 milhões (R$ 286,3 milhões convertidos). Na comparação com agosto de 2024, alta de 152% nos valores e de 704% no volume.
Em igual período do ano passado, a comercialização de produtos com os EUA foi de 8,3 mil toneladas e somou US$ 20,8 milhões (R$ 113,4 milhões na conversão).
Impactos devem ser ainda maiores nos próximos meses
Os produtos semimanufaturados, de outras ligas de aços, foram disparados a principal pauta exportadora cearense, com um volume de vendas de mais de US$ 37,1 milhões (R$ 202,4 milhões) só em agosto deste ano.
Vale lembrar que vigora desde o início do mês passado a sobretaxação de 50% do país norte-americano sobre diversos itens da pauta exportadora brasileira. No caso do ferro e do aço, eles constam na ampla lista dos produtos que ficaram de fora da nova alíquota, mas já haviam passado por um tarifaço anterior, anunciado em fevereiro deste ano.
Desde o anúncio da sobretaxação de 10% sobre as exportações brasileiras para os EUA, os contratos firmados com importadores estadunidenses foram sendo antecipados, como explica Augusto Fernandes, CEO da JM Negócios Aduaneiros.
“O Brasil foi antecipando contratos em todos os setores. Depois as coisas foram piorando [novas tarifas para outros países], e aumentamos a exportação com medo de perder mais contratos e clientes e mandamos tudo que podíamos. Isso explica quase triplicar o percentual, pois o medo é um excelente combustível”, esclarece.
Como setembro será o primeiro mês completo com o tarifaço de 50% em vigor, a tendência, conforme a análise de Augusto Fernandes, é de que os impactos sejam ainda mais sentidos, mas não é possível precisar em qual dimensão.
Governo do Ceará decreta emergência em virtude do tarifaço
O Governo do Ceará decretou, nessa quinta-feira (4), situação de emergência no Estado em decorrência da sobretaxação imposta pelos EUA.
Segundo a Secretaria da Casa Civil do Estado, isso permite ao Poder Público “a utilização de uma rubrica do orçamento prevista como reserva de contingência, específica para situações de emergência. O objetivo é viabilizar a execução das medidas de apoio às empresas atingidas pelo tarifaço”.
As medidas anunciadas em 21 de agosto pelo governador Elmano de Freitas (PT) incluem subvenção econômica para empresas manterem seus negócios com o país norte-americano, bem como a compra direta pelo Estado de produtos alimentícios.
Isso inclui sobretudo os itens considerados mais sensíveis de impacto na sobretaxação, como pescados, castanha de caju, mel e água de coco. Eles devem ser direcionados também para a rede estadual de ensino cearense.
Veja lista dos 10 principais produtos exportados do Ceará para os EUA em agosto:
Produtos semimanufaturados, de outras ligas de aços
- Volume exportado (em R$): R$ 202,4 milhões
- Volume exportado (em toneladas): 52,1 mil toneladas
- Tamanho da exportação (em % — em relação às exportações cearenses para os EUA): 70,6%
- Variação (com relação a agosto do ano passado): voltou a aparecer entre os mais exportados (não estava na lista do ano passado)
Outros produtos semimanufaturados, de ferro ou aços, não ligados, contendo em peso < 0,25% de carbono, de seção transversal retangulares
- Volume exportado (em R$): R$ 25,4 milhões
- Volume exportado (em toneladas): 9,2 mil toneladas
- Tamanho da exportação (em % — em relação às exportações cearenses para os EUA): 9%
- Variação (com relação a agosto do ano passado): voltou a aparecer entre os mais exportados (não estava na lista do ano passado)
Suco (sumo) de qualquer outra fruta ou produto hortícola
- Volume exportado (em R$): R$ 12,8 milhões
- Volume exportado (em toneladas): 1,8 mil toneladas
- Tamanho da exportação (em % — em relação às exportações cearenses para os EUA): 4,5%
- Variação (com relação a agosto do ano passado): caiu 32,07%
Outros peixes, exceto fígados, ovas e sêmen
- Volume exportado (em R$): R$ 8 milhões
- Volume exportado (em toneladas): 162 toneladas
- Tamanho da exportação (em % — em relação às exportações cearenses para os EUA): 2,8%
- Variação (com relação a agosto do ano passado): subiu 6,11%
Outros calçados de borracha ou plástico
- Volume exportado (em R$): R$ 6 milhões
- Volume exportado (em toneladas): 35 toneladas
- Tamanho da exportação (em % — em relação às exportações cearenses para os EUA): 2,1%
- Variação (com relação a agosto do ano passado): caiu 15,08%
Outras pedras de cantaria trabalhadas de outro modo e suas obras
- Volume exportado (em R$): R$ 3,37 milhões
- Volume exportado (em toneladas): 270 toneladas
- Tamanho da exportação (em % — em relação às exportações cearenses para os EUA): 1,18%
- Variação (com relação a agosto do ano passado): subiu 53,08%
Mel natural
- Volume exportado (em R$): R$ 3,33 milhões
- Volume exportado (em toneladas): 166 toneladas
- Tamanho da exportação (em % — em relação às exportações cearenses para os EUA): 1,17%
- Variação (com relação a agosto do ano passado): subiu 30,37%
Outros calçados, parte superior de couro natural
- Volume exportado (em R$): R$ 3,03 milhões
- Volume exportado (em toneladas): 17 toneladas
- Tamanho da exportação (em % — em relação às exportações cearenses para os EUA): 1,06%
- Variação (com relação a agosto do ano passado): caiu 63,15%
Couros e peles inteiros, de bovinos ou de equídeos, preparados após curtimenta ou secagem e couros e peles apergaminhados, depilados, divididos, com a flor
- Volume exportado (em R$): R$ 2,4 milhões
- Volume exportado (em toneladas): 22 toneladas
- Tamanho da exportação (em % — em relação às exportações cearenses para os EUA): 0,84%
- Variação (com relação a agosto do ano passado): caiu 73,76%
Ceras vegetais, mesmo refinadas ou coradas (exceto triglicerídeos)
- Volume exportado (em R$): R$ 2,37 milhões
- Volume exportado (em toneladas): 59 toneladas
- Tamanho da exportação (em % — em relação às exportações cearenses para os EUA): 0,83%
- Variação (com relação a agosto do ano passado): caiu 72,48%