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Casos de bronquiolite em crianças aumentam em Fortaleza, e hospitais reforçam leitos; veja prevenção

Pacientes menores de 4 anos chegam com maior gravidade às unidades de saúde e necessitam até de UTI

por gazetalitoranea.com.br
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casos de bronquiolite em crianças

A quadra chuvosa no Ceará, que encerra em maio, é um período favorável para a ocorrência de infecções respiratórias, especialmente a bronquiolite em crianças. Embora não haja dados detalhados da doença, especialistas alertam que os casos estão ligados ao agravamento dos quadros relacionados principalmente ao vírus sincicial respiratório (VSR) e à influenza (gripe), que têm pressionado as redes de saúde diante da alta demanda, exigindo inclusive reforço de leitos.

Segundo informe epidemiológico da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) publicado neste mês, o VSR teve a maior detecção do último ano em abril de 2025, com 34,4% de positividade. “Nas últimas quatro semanas, o VSR predomina como agente etiológico dos casos de SRAG. Ocorreu também aumento da SRAG por influenza”, destaca.

Nessas quatro semanas, foram notificados 1.056 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no Estado. O grupo etário mais acometido foi o dos menores de 4 anos, com 678 pacientes (destes, 266 com até seis meses de vida).

Os dados da plataforma IntegraSUS, também da Sesa, confirmam um aumento de atendimentos por síndromes gripais em crianças de até 4 anos, a partir de abril, em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Fortaleza.

Fevereiro e março tiveram, respectivamente, 509 e 715 atendimentos do tipo. Já abril registrou 1.007 acolhimentos. De 1º a 25 de maio, foram 948. Somando todos os registros, o período da quadra chuvosa já levou a mais de 3 mil atendimentos, cerca de 20% do total.

Por isso, o Ministério da Saúde recomenda um diagnóstico precoce dessas síndromes para evitar casos graves. A Pasta alerta que o VSR é uma das principais causas de infecções das vias respiratórias e pulmões em recém-nascidos e crianças menores de 5 anos, podendo causar bronquiolite e pneumonia.

Os riscos de contaminação nesse período do ano, alertam especialistas, têm relação com a grande concentração de pessoas em ambientes fechados e não ventilados e a falta de higienização constante.

No maior hospital infantil do Ceará, o Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), os atendimentos dobraram. Em entrevista ao Diário do Nordeste, a pediatra Fábia Linhares, diretora geral da unidade, afirma que a média de acolhimento normal é de 200 crianças por dia. Porém, já chegou a mais de 400 desde abril.

“Essa sazonalidade é diferente de anos anteriores. Ela começou um pouco mais tarde porque o período chuvoso se estendeu e agora sentimos a intensidade. Dentro dos vírus frequentes no primeiro semestre, temos em alta o VSR, que nas crianças menores de 2 anos tem um acometimento mais agudo”, relata.

Com sintomas mais fortes, como tosse persistente e febre prolongada, ocorre maior fluxo de pacientes para o pronto atendimento. No entanto, indica ela, atualmente há uma “leve tendência à estabilização”.

“Saímos do pico e começamos a estabilizar. Esperamos que isso aconteça até o fim de maio, até porque a exposição já aconteceu a muitas crianças”, projeta.

Leitos lotados

No momento, a rede de saúde continua sob pressão. A pediatra Kathiane Moreira, que atua na rede privada da capital, relata grande ocupação de leitos com crianças em situação delicada, “com maior gravidade do que no ano passado”. Afinal, a bronquiolite é uma infecção viral que ataca e inflama os bronquíolos, pequenos canais que levam ar aos pulmões.

“As crianças chegam mais graves, evoluem rapidamente para insuficiência respiratória e necessitam de suporte de oxigênio. Algumas respondem bem, outras precisam de intubação e até de UTI. No serviço privado, as UTIs pediátricas praticamente estão sem leito. Estamos fazendo milagre nas emergências”, relata.

Além da infraestrutura, ela lembra que os profissionais “estão sobrecarregados, com muito plantão”, cumprindo “uma carga horária pesada para não deixar as escalas dos hospitais desfalcadas”. “Está bem cansativo, bem preocupante”, ressalta.

Na observação de Kathiane, o novo cenário deve ser resultado de uma mudança comportamental. Como VSR e influenza já circulam normalmente no primeiro semestre, a contaminação das crianças pode decorrer de aglomerações no período.

“Hoje, a gente vê muita visita a recém-nascidos, e antigamente não tinha esse hábito. Tem as redes sociais, e os pais acabam fazendo muito evento, muito ‘mesversário’. Isso torna as crianças com menos de 6 meses de vida mais expostas, e são elas que mais precisam de UTI”, alerta.

bronquiolite em crianças

Hospitais da capital registram alta procura por atendimentos relacionados a síndromes respiratórias – Foto: Helene Santos

Como a rede de saúde se preparou?

Para lidar com a situação, o Hospital Albert Sabin tem um gabinete de crise que toma decisões baseadas a partir da procura de cada dia, “para readequar a unidade de acordo com a demanda”, segundo a diretora Fábia Linhares.

Entre as mudanças provocadas pela sazonalidade, ela cita:

  • aumento de 3 para 6 médicos na porta do hospital, para atender à livre demanda
  • reforço de mais um médico no horário de pico, a partir do fim da tarde, porque os pais tendem a levar os filhos depois do trabalho
  • reformulação da emergência com 72 leitos
  • disponibilização de 60 leitos de UTI
  • aumento de 5 para 15 leitos na sala vermelha, para pacientes graves
  • ampliação do número de leitos com respiradores

“A gente tem um estoque. A Sesa nos disponibilizou mais ventiladores e monitores, então não temos falta de nenhum equipamento vital, nem insumos ou medicamentos”, sublinha.

Esquemas especiais de atendimento também foram montados em outras unidades de saúde. No Hospital Infantil Filantrópico Sopai, referência em atendimento pediátrico de alta complexidade que realiza atendimento gratuito via Sistema Único de Saúde (SUS), o protocolo é atender casos mais graves primeiro.

“O período atual é marcado por sazonalidade e aumento expressivo na demanda, com um número muito acima da média de crianças em estado grave, o que naturalmente acarreta maior tempo de espera para casos menos urgentes”, explica.

A Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza (SMS) declarou que, devido à sazonalidade da circulação de vírus respiratórios, colocou em prática um plano de atendimento específico com o funcionamento de postos de saúde estratégicos nas Regionais de Saúde da cidade, “voltados para o acolhimento de pacientes com sintomas gripais, prioritariamente infantis”, com atendimento médico, enfermagem e farmácia.

A Pasta ressalta que também mantém o monitoramento das síndromes gripais a nível municipal. Até o mês de abril de 2025, foram registrados mais de 33 mil atendimentos nos postos de saúde relacionados a sintomas gripais.

“A orientação é que, em casos leves, a população procure um dos 134 postos de saúde do município. Já em situações com sintomas moderados, os usuários devem se dirigir a uma das 12 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) da Capital”, orienta.

Na rede privada, também houve reforço. A Unimed Fortaleza informa que atende 100% da demanda de acordo com o fluxo de procura tanto nos dois hospitais da capital quanto no Pronto Atendimento Aldeota e no Pronto Atendimento Maracanaú.

A rede ressalta que, em situações de sintomas leves a moderados, recomenda  a opção pelo Pronto Atendimento Virtual, permitindo que os pacientes “sejam atendidos no ambiente familiar e reduzindo a exposição das emergências”, mantendo a emissão de prescrições médicas, atestados e encaminhamentos para exames, conforme a necessidade.

Sintomas da bronquiolite

De acordo com o Ministério da Saúde, os principais sintomas da bronquiolite viral são:

  • Obstrução nasal
  • Coriza clara
  • Tosse
  • Febre
  • Irritabilidade
  • Dificuldade para respirar
  • Respiração rápida
  • Sibilância (chiado no peito)

Porém, em situações mais graves, outros sintomas podem aparecer:

  • Sonolência
  • Gemência (som de queixa ao respirar)
  • Cianose (arroxeamento dos lábios e extremidades)
  • Pausas respiratórias

A manifestação desses sintomas traz a necessidade de se procurar uma Unidade Básica de Saúde para o primeiro atendimento.

Como é o tratamento da bronquiolite?

Não existe um tratamento específico para a bronquiolite. O manejo é baseado no tratamento dos sinais e sintomas virais e inclui:

  • Terapia de suporte;
  • Suplementação de oxigênio, se for necessário;
  • Hidratação;
  • Uso de broncodilatadores (substâncias que promovem a dilatação das pequenas vias aéreas nos pulmões).

Onde buscar atendimento?

A diretora do Hias, Fábia Linhares orienta que quadros de coriza, tosse e dor de garganta devem ser atendidos nas unidades de saúde básica mais próximas, “para dar assistência inicial e não se expor onde tem crianças com doenças infecciosas mais graves”.

Se o prognóstico apresentar mais gravidade, como respiração mais rápida, cor diferente, desidratação e dificuldade de comer, o ideal é buscar uma UPA. Caso haja necessidade, o paciente é direcionado para um hospital terciário.

Caso a procura seja direta no Hias, a criança menos grave é acolhida, mas depois encaminhada, via sistema de regulação, para um local de menor complexidade.

Segundo ela, os especialistas do Albert Sabin forneceram treinamentos para outros profissionais da rede de saúde da Capital para capacitá-los através de protocolos uniformes sobre bronquiolite. “É uma doença em que, bem assistida, a criança logo fica boa”, garante.

Como prevenir a bronquiolite?

A prevenção da bronquiolite envolve medidas de distanciamento e higiene para reduzir o risco de infecções virais respiratórias. As principais orientações do Ministério da Saúde são:

  • Lavar as mãos com frequência e utilizar álcool em gel;
  • Evitar contato próximo de bebês e crianças com pessoas resfriadas ou gripadas;
  • Ao tossir ou espirrar, cobrir a boca e o nariz com um lenço descartável ou com o cotovelo para evitar a propagação de partículas no ar.

“Para quem tem filho recém-nascido, evite aglomerações e não permita visitas de pessoas com sintomas gripais. Para os familiares que têm algum sintoma: use máscara e lave bem as mãos antes de tocar no bebê ou nas coisas do bebê”, sugere a pediatra Kathiane Moreira.

Já para irmãos ou irmãs em idade escolar, o ideal é mantê-los afastados e explicar que ainda “não é o momento de pegar”.

A médica Fábia Linhares complementa: é importante aumentar a hidratação dos pequenos com sucos, frutas, chá e água de coco, suprindo a necessidade de vitaminas e aumentando a imunidade.

Vacina contra a gripe

A pediatra Kathiane Moreira ressalta que ainda não há vacina contra bronquiolite para a criança (só para gestantes e idosos a partir de 60 anos), mas a vacina da influenza está disponível para bebês a partir dos 6 meses de idade.

No último dia 19 de maio, o Governo do Estado abriu a vacinação para todas as faixas etárias. Os imunizantes ficarão disponíveis nos postos de saúde da capital e nos três Vapt Vupt de Fortaleza (Papicu, Messejana e Antônio Bezerra).

Para ter acesso, é preciso apresentar um documento de identificação e, se possível, a caderneta de vacinação.

Não atrase o calendário vacinal, isso evita que a se torne um caso grave algo que deveria ser mais simples”, lembra Kathiane.

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