Cerca de 32,6% das prefeituras cearenses analisadas no Índice Firjan de Gestão Fiscal (IFGF) 2025 não foram capazes de suprir as despesas básicas em 2024 (salários do prefeito e dos vereadores). Os dados foram divulgados nessa quinta-feira (17).
Isso significa que, no estudo, 59 municípios cearenses receberam nota zero no indicador Autonomia. O critério avalia se as receitas geradas pela atividade econômica local são suficientes para cobrir as despesas essenciais ao funcionamento da administração municipal.
Das 181 cidades cearenses analisadas pelo IFGF 2025, 92,8% (168) tiveram as pontuações mais baixas no índice Autonomia.
Entenda o Índice Firjan de Gestão Fiscal
A pesquisa, realizada pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), busca analisar a situação das contas públicas municipais e mostrar como as prefeituras administram os recursos.
Além do indicador Autonomia, o relatório investiga os Gastos com Pessoal, os Investimentos e a Liquidez das cidades.
Os dados foram coletados com base em resultados fiscais oficiais, declarados pelas próprias prefeituras à Secretaria do Tesouro Nacional (STN). Ao todo, foram avaliados 5.129 municípios brasileiros, onde vive 95,6% da população nacional.
No relatório, cada cidade recebe uma pontuação referente a um índice. O valor varia entre 0 e 1 e pode ser classificado da seguinte forma:
- Crítico: resultados inferiores a 0,4 ponto;
- Difícil: resultados entre 0,4 e 0,6 ponto;
- Bom: resultados entre 0,6 e 0,8 ponto;
- Excelente: resultados superiores a 0,8 ponto.
Autonomia das cidades cearenses é 57,1% mais baixa que média nacional
A média cearense do indicador Autonomia foi a mais baixa frente os demais índices, resultando em 0,1887 ponto. O valor está 57,1% abaixo da média nacional do indicador Autonomia (0,4403).
Além disso, apenas 13 municípios do Estado apresentaram notas boas ou excelentes no indicador. Dentre esses, quatro receberam pontuação máxima, sendo eles: Aquiraz, Eusébio, Fortaleza e São Gonçalo do Amarante.
As informações das prefeituras de Graça, Meruoca e Penaforte estavam inconsistentes ou indisponíveis e não foram incluídas no estudo.
De acordo com o economista e presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon), Wandemberg Almeida, a dependência cearense de recursos federais é resultado de uma base econômica estadual pouco diversificada e centrada em atividades com baixa capacidade de arrecadação, como a agricultura de subsistência e o comércio de pequeno porte.
O especialista também destaca a concentração de atividade econômica em poucas cidades, o que resultaria em um estado menos dinâmico e mais desigual.
“Infelizmente, o Ceará não é diferente de outros estados do Nordeste. A maioria dos nossos municípios tem uma informalidade muito grande. Nossas cidades são altamente dependentes do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), das transferências governamentais e constitucionais, para poder manter essa máquina pública em funcionamento”
Para alavancar o cenário, Wandemberg frisa a necessidade de aprimorar a gestão fiscal e investir em profissionais qualificados capazes de aumentar a arrecadação dos municípios.
Além disso, o economista sugere que as prefeituras devem atrair investimentos prósperos, diversificar a economia, investir em tecnologia, estimular o empreendedorismo e valorizar segmentos com alto potencial na região, como o turismo, o agronegócio e as energias renováveis.
“Também é importante avançar com planejamento de longo prazo, criar políticas públicas e ter um portal de transparência fiscal para poder ter recursos que possam trazer um grande impacto para o desenvolvimento municipal”, salienta.
