As ruas de Fortaleza foram palco de voz, cores, liberdade e inclusão na manhã de ontem, 15, com a 4ª edição do Pedal do Orgulho. O evento reuniu famílias, ativistas e aliados de todas as idades em um percurso de 8 km, integrando a programação do Mês da Diversidade Sexual.
Com saída do Passeio Público, no Centro da Capital, por volta das 8 horas, bicicletas decoradas com as cores da bandeira LGBTQIA+ fizeram percurso que abrangeu a rua Major Facundo e as avenidas Dom Manuel, Monsenhor Tabosa e Beira Mar.
O evento, que neste ano passou a integrar oficialmente o calendário de eventos do Estado seguindo a lei n° 19.244, é promovido pela Associação Mães do Orgulho e Resistência Ceará (Amor), em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS), por meio da Coordenadoria Especial de Diversidade Sexual.
“O amor tem que vencer”
Para Gioconda Aguiar, presidente da Associação Amor, a iniciativa é fruto de uma dor transformada em militância. Há oito anos, ela se engajou na luta após sua filha sofrer transfobia.
“Essa dor me motivou a sair de casa para lutar por um mundo mais inclusivo”, afirma. O reconhecimento oficial do evento pelo Estado, segundo ela, “representa um grande avanço em termos de reconhecimento e fortalecimento para futuras edições”.
Gioconda reforça o papel fundamental das famílias no processo de acolhimento. “Pais, mães e familiares precisam abraçar e amar seus filhos LGBTs, pois eles são a mesma pessoa que sempre foram. O amor é o ensinamento fundamental. O amor tem que vencer”, completa.
A dor do preconceito e o grito por respeito
A Associação Amor atua como uma rede de apoio para mães, pais e familiares de pessoas LGBTQIA+, oferecendo suporte emocional e orientação sobre direitos, além de promover visibilidade e combater o preconceito.
Foi com esse espírito que Rosane Andrade, 45, professora universitária e do ensino básico, levou sua família para o evento. Membro da Amor, ela compareceu ao pedal com a esposa e os quatro filhos. Para eles, a iniciativa é uma oportunidade de reforçar a importância da visibilidade e do respeito.
Emocionada, Rosane também compartilhou sua dor com o preconceito familiar, lembrando da própria história ao ser expulsa de casa aos 15 anos. “Esse preconceito, até da própria família, dói muito. E participar de um evento como esse é gritar’, é dizer para a sociedade que a gente existe e que a gente merece respeito”.
Segurança, serviços e apoio institucional
Durante todo o percurso, a organização contou com o apoio da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) e da Guarda Municipal de Fortaleza, garantindo a segurança dos participantes. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) também esteve presente, oferecendo aferição de pressão e outros serviços básicos de saúde.
Para Narciso Júnior, coordenador especial da Diversidade Sexual de Fortaleza, o evento é mais do que simbólico. “O Pedal do Orgulho vai além da celebração. Ele busca dar visibilidade à população LGBTQIA+, mostrando as cores da bandeira e a resistência diária. A união entre poder público e sociedade civil fortalece o combate à LGBTfobia”, destaca.
O coordenador também ressaltou a prioridade da gestão em fortalecer políticas públicas e estruturas de acolhimento, como o Centro de Referência Municipal LGBT+ Janaina Dutra. Segundo ele, o equipamento foi reestruturado e transferido para o prédio do antigo TRE, no Centro da Cidade, e agora conta com equipe multidisciplinar formada por advogado, psicólogo e assistente social. “A população LGBT precisa se sentir acolhida pelo serviço público.”
Visibilidade e representatividade para todas as idades
Silvia Vieira, 47, participou do Pedal do Orgulho pela primeira vez. Ela compareceu acompanhada do namorado e do filho de oito anos, Artur, e descreve a experiência como desafiadora, mas energizante. A música, a união das pessoas e a mensagem coletiva de amor e respeito marcaram seu dia.
“É algo muito especial, representativo e de visibilidade, porque as pessoas precisam entender que os LGBTs existem e estão em todos os lugares fazendo várias coisas, inclusive andando de bicicleta”, diz.
O percurso de volta seguiu pelas avenidas Historiador Raimundo Girão, Pessoa Anta e Alberto Nepomuceno, além da rua Dr. João Moreira, encerrando o trajeto no Passeio Público, local de concentração e dispersão do evento.